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Julho 2024 – O TEMPO COMUM NA LITURGIA

Julho 2024 – O TEMPO COMUM NA LITURGIA

Desde Pentecostes estamos vivendo o Tempo Comum na Liturgia. Este longo período (33 ou 34 semanas anuais, dividido em duas etapas) nos faz pensar em nossa vida que, na maior parte do tempo, não é composta de grandes coisas, mas dos fatos simples do dia a dia que, aos olhos de Deus, tem grande valor. O Tempo Comum nos leva a olhar, também, para os trinta anos que Jesus passou no anonimato, certamente realizando trabalhos domésticos ou com São José, seu pai adotivo, na carpintaria e buscando, no relacionamento com sua família, com sua comunidade e com Deus, fazer em tudo a vontade do Pai: “Não sabíeis que devo me ocupar das coisas do meu Pai?” (Lc 2, 49).
Em sua vida pública, Jesus valorizou as pequenas coisas: falou do bom pastor que vai em busca de uma única ovelha que se perdeu (cf Mt 18,12); ensinou que o Reino de Deus é como a semente de mostarda, que é a menor de todas, mas quando nasce e cresce torna-se maior do que as outras plantas (cf. Mt 13,35); mostrou que o Reino do Céu começa pequeno como o fermento usado no pão, mas que faz crescer a massa (cf Lc 13,20-21); fez ver o gesto simples da pobre viúva, que agradou a Deus oferecendo suas poucas moedinhas no cofre do templo (cf. Mc 12,41-44); na parábola do administrador infiel, ele concluiu que “quem é fiel nas pequenas coisas, será fiel também nas grandes” (Lc 16,10); no gesto da multiplicação dos pães ele mostrou que cinco pães e dois peixes são suficientes para alimentar uma multidão, quando há partilha (cf. Mt 14,13-21).
A Bíblia Sagrada está cheia de passagens em que Deus escolhe pessoas simples para trabalhar no seu Reino: escolheu Moisés, nem sabia falar direito e era filho de escrava (cf. Ex 6,29-30 ); chamou Amós para ser profeta, homem simples, pastor de ovelhas, colhedor de sicômoros (cf. Am 7,14-15); escolheu Jeremias, que tinha dificuldade de falar e era muito jovem (cf Jr 1,6); olhou para Maria de Nazaré, humilde serva do Senhor e a chamou para ser a mãe do seu Filho (cf. Lc 1,48); escolheu João Batista, homem do deserto, que não se sentia digno nem de desamarrar as sandálias de Jesus (cf. Mc 1,7-11). Escolheu também pessoas instruídas, ou até opositoras ao seu Reino, como foi o caso de São Paulo que, depois da conversão, nem se considerava digno de ser chamado apóstolo (cf. 1Cor 18,8) e sentia que quando era fraco então é que era forte (cf. 2Cor 12,10).
São Francisco de Assis entendeu que Deus o chamava para ser menor e que os irmãos que quisessem seguir o ideal evangélico por ele traçado, deviam ser menor de nome e de fato.
Portanto, o Tempo Comum nos convida a entrar no mistério das “pequenas/grandes coisas” e a perceber a beleza e riqueza que se escondem em cada uma delas. Eu disse “esconde”, porque é necessário bem mais que um simples olhar para desvendar o seu significado profundo. Em nossa vida temos oportunidade de realizar muitas “pequenas/grandes coisas”, mas o que faz a diferença é o amor que se coloca em cada gesto ou ato. Assim, ganha sentido um trabalho doméstico que fazemos, uma atividade na horta, uma limpeza na casa, um gesto de perdão, um tempo que dedicamos para escutar alguém, um cumprimento que damos a quem encontramos, um elogio sincero, uma ajuda que prestamos a quem precisa, os momentos que nos reunimos para rezar, um doente que visitamos e tantos outros pequenos gestos que moldam a nossa personalidade e nos colocam na dinâmica do Reino de Deus, para o qual “até um copo d’água dado com amor a alguém, não fica sem recompensa” (Mt 10,42).
Frei Pedro Cesário Palma, OFMCap – Pároco

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