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Maio 2024 – A PÁSCOA DE SÃO FRANCISCO E A NOSSA PÁSCOA

Maio 2024 – A PÁSCOA DE SÃO FRANCISCO E A NOSSA PÁSCOA

Para São Francisco de Assis, viver a Páscoa é estar em constante êxodo, em passagem de um estado de vida para outro, até a passagem definitiva para a casa do Pai.
Podemos entender esta maneira franciscana de viver a Páscoa, quando observamos a nossa vida, que é feita de constantes passagens. A primeira passagem que fazemos é a do nascimento. Não é fácil deixar o útero da mãe e enfrentar a nova realidade! Depois vem a passagem da infância para a adolescência; e desta para a juventude; da juventude para a idade adulta; desta para a velhice (hoje prefere-se terceira idade); da velhice para a morte. Cada uma dessas travessias comporta crise, sofrimento, mas também é causa de alegria e superação.
No sentido religioso, a pessoa pode realizar a passagem para o Batismo, que é a travessia para o mundo sobrenatural da Graça; do casamento, como passagem de solteiro(a), para casado(a), com as responsabilidades que este estado comporta. Também ocorre a passagem para a vida religiosa ou sacerdotal.
São Francisco de Assis, em seu processo de conversão, realizou algumas “páscoas” importantes. A primeira foi causada por uma grave doença. Ele teria entrado em estado de coma e permanecido por certo tempo desacordado. Quando voltou a si, já não era a mesma pessoa. A doença lhe revelara os limites e a brevidade das coisas desta terra.
A segunda “páscoa” de sua conversão ocorreu no encontro com o leproso. Ele viu o leproso lá em baixo, ao solo e ele, Francisco, lá em cima, no alto do cavalo; duas posições sociais; duas distâncias máximas. Sentiu vontade de esporear o cavalo e fugir. Mas se conteve. E mais: desceu do seu cavalo (de sua posição social), nivelou-se ao leproso, beijou-o e colocou em suas mãos o dinheiro que possuía. Esse episódio o marcou tanto, que ele vai narrar, depois, no Testamento.
O terceiro fato que significou uma “páscoa” na vida de Francisco foi a “voz do crucifixo” na Igreja de São Damião, pedindo para ele reconstruir a Igreja. Ele começou a reconstruir aquela Igreja. E depois outras. Mas logo entendeu que a igreja a ser reconstruída era a Casa de Deus, feita de pessoas.
A quarta “passagem” vai acontecer, na vida de Francisco, quando ele ouve o Evangelho da missão apostólica, em que Jesus diz: “O discípulo não deve levar duas túnicas, nem ouro, nem prata, nem sandálias, nem bastão e nem alforje” (cf Mt 10, 9-11). Então Francisco, cheio de entusiasmo, exclamou: “É isso que eu busco, é isso que eu quero, é isso que eu vou fazer de todo coração”.
A Páscoa do Senhor, vivida por São Francisco, é relatada por São Boaventura desta forma: “Certa vez, no dia sagrado da Páscoa, estando Francisco num eremitério distante e sem poder mendigar, pediu esmola aos próprios irmãos, como peregrino e pobre, em memória d’Aquele que, naquele dia, aparecera aos discípulos na estrada de Emaús sob a figura de peregrino (…). E Francisco exortou os irmãos para que, no deserto deste mundo, se julgassem peregrinos e estrangeiros e que celebrassem continuamente, em pobreza de espírito, a Páscoa do Senhor, ou seja, o trânsito desta vida à vida eterna, ou seja, a passagem deste mundo para o Pai” (Legenda Maior, VII, 9).
Portanto, para São Francisco, viver a Páscoa é tarefa do dia-a-dia, através de uma vida de doação, caminhando como peregrino por este mundo e percebendo a presença do Senhor Ressuscitado que caminha conosco.
A Páscoa não tem somente um sentido individual, mas também comunitário, eclesial e social. Ela celebra a libertação da humanidade inteira, pela entrega de Jesus, que aceitou a injusta condenação à morte de cruz. Essa morte não foi imposta pelo Pai de bondade, mas consequência da prática libertadora de Jesus, face aos desvalidos de seu tempo e por apresentar uma outra visão de Deus-Pai, bom e misericordioso.
São Francisco tinha consciência da dimensão comunitária, eclesial e social da Páscoa. Por isso ele escreveu carta aos clérigos e governantes dos povos; foi conversar com o Sultão do Egito; apaziguou autoridades políticas e religiosas. Ele queria levar todos à vida nova da Páscoa.
É com este sentimento cristão e franciscano que desejo a todos feliz e santa Páscoa. Que cada etapa de nossa vida, bem como cada opção que fazemos, signifique essa vida nova que vamos vivendo, até chegar o dia pleno da Páscoa definitiva, no encontro com o Pai.
Frei Pedro Cesário Palma – Pároco

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