Jesus, antes de iniciar sua vida pública, fez um retiro de quarenta dias. É esse retiro que todos os anos nos propomos fazer na Quaresma, tempo de revisão de vida e de conversão, em preparação à Páscoa do Senhor.
Biblicamente são três aspectos que nos são propostos para o nosso retiro: oração, jejum e esmola (caridade). No Brasil acrescenta-se uma quarta proposta feita pela Campanha da Fraternidade deste ano: Amizade Social.
Oração: todos nós temos nossos momentos de oração, sejam individuais, em fraternidade ou em comunidade. Mas é importante nos perguntar sobre a qualidade de nossa oração: ela está sendo encontro com Deus, que nos leva ao encontro dos irmãos e irmãs? Ela está fortalecendo a nossa vida e nos levando a compromissos cada vez maiores com os valores do Reino de Deus?
Além dos momentos de oração é preciso perguntar: como vai a nossa “vida de oração”? Ter vida de oração é entender a história, os fatos da existência (sejam eles positivos ou negativos), os afazeres do dia-a-dia, o apostolado e a vocação sob a ótica divina. É estar atento para que tudo seja vivido conforme o projeto de Deus.
Jejum: Dizem os Evangelhos que Jesus, no deserto, jejuou durante quarenta dias (cf. Mt 4,1-2; Lc 4,1-2). O jejum traz consigo a denúncia profética de um mundo injusto, onde uns poucos têm tanto enquanto muitos passam fome. Além das privações de alimentos e bebidas na quaresma (que é muito importante), há tantas outras maneiras de jejuar. É interessante o que diz um texto a esse respeito: “É preciso jejuar de palavras negativas e dizer palavras bondosas; jejuar do descontentamento e encher-se de gratidão; jejuar da raiva e encher-se de mansidão e paciência; jejuar do pessimismo e encher-se de esperança e otimismo; jejuar das preocupações e encher-se de confiança em Deus; jejuar das queixas e encher-se das coisas simples da vida; jejuar das tensões e encher-se de paz; jejuar das amarguras e tristezas e encher o coração de alegria; jejuar do egoísmo e encher-se de compaixão pelos outros; jejuar da falta de perdão e encher-se de reconciliação; jejuar de palavras e encher-se de silêncio para ouvir Deus e os outros”.
Esmola ou Caridade: diz São Paulo que a Caridade é a plenitude da lei (Rm 13,10). Mais do que doar coisas (que também é necessário), caridade é solidarizar-se com os que não têm condições de vida digna. Quando nos solidarizamos com ações concretas, pelo bem dos que mais sofrem, significa que nossa caridade é de fato expressão de um coração compassivo e comprometido com a justiça.
Numa certa ocasião o Papa Francisco disse que faz parte da caridade: cumprimentar com alegria; ouvir a história do outro, sem julgamento; reconhecer os sucessos e qualidades do outro; estar atento a quem precisa de ajuda; corrigir com amor; limpar o que sujou em casa; ter delicadeza para com quem está perto; ajudar o outro a superar os obstáculos.
Amizade Social: O quarto aspecto para o retiro da quaresma deste ano nos é proposto pela Campanha da Fraternidade, que tem como tema “Fraternidade e Amizade Social”, e como lema: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8), é um convite a transformar as divisões em fraternidade, a indiferença em participação, o isolamento em comunhão.
Que o Senhor nosso, Jesus Cristo, nos ajude a fazer um frutuoso retiro quaresmal, a fim de nos prepararmos para a Páscoa e nos fortalecermos em nossa missão.